Recaída
A gente conta os dias, só por hoje, só por hoje, mas sabendo que a adicção existe e as recaídas em algum momento, principalmente no início, vão ocorrer.
Mas quando ela chega, dá todo aquele pavor, que com os dias de paz estava adormecido, e ele vem maior, mais sombrio.
Somos humanas, falhas, sentimos raiva, revolta, vontade de sumir, desistir, aí é aquele quadro caótico, tão surreal que parece às vezes um pesadelo, e eu penso, vou acordar, mas não, é real, depois do caos, do desgaste, de toda a gama de asperezas, você só quer que a noite passe e que o dia nasça com sua luz extirpando as trevas e as dores.
Não cabe críticas, nem cobranças, só atitude firme e mostrar que o posicionamento é o mesmo.
Basta um gole, meu Deus, é tanta fragilidade e tanta força para resistir ao apelo do vício por vários dias.
Vamos recomeçar a contagem.
Do dia 1, um dia de cada vez, só por hoje.
Deus me fortalece e sustenta, mas seria tão mais fácil se tivesse uma clínica, um tratamento, terapia, trabalho, horta, aula, círculo de palestras, todo um acompanhamento multidisciplinar, ah, mas isso precisa existir custeado pelo poder público, e assim vai ser, eu creio, vou realizar esse projeto.
Por enquanto, vou pedindo forças e vou caminhando, sem ter pena de mim, mas me orgulhando da mulher que me tornei, da mãe que sou, bem descontrolada, ansiosa e desesperada durante os episódios, mas logo consigo me centrar, e me acalmo, sem pena, sem dó, com a certeza que a vida continuará e que tem jeito.
Só por hoje, só por hoje, só por hoje...
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Magaly Fernandino
Uma mulher de muitas lutas.
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