Relatos de uma Dependência Química III
Entrei no mundo das drogas ainda muito jovem, por volta dos doze ou treze anos de idade,
apenas. Meus pais trabalhavam muito e eu era uma criança depressiva, me achava incompreendido e
"injustiçado" por não receber a merecida atenção, o que é comum na adolescência. Junto com amigos de
escola, experimentei, a princípio, benzina e maconha, e achei encantadores os efeitos, que me
transportavam para um mundo onde não havia qualquer preocupação ou nenhum conflito tipicamente
adolescente, mas o torpor morno e alegre, o riso e os sonhos, mesmo acordado, das ilusões da mente.
Por algum tempo continuei usando recreativamente estas substâncias, junto com amigos, até que,
escondido de meus pais, passei a usar dentro de casa enquanto eles se dedicavam ao
trabalho. O que posso dizer em minha defesa é que eu era apenas uma criança, influenciada por pessoas
um pouco mais maduras que eu, me sentindo solitária e contando com toda a "glamorização" da mídia,
entre outros veículos, do uso de entorpecentes, e a minhas próprias inocência e inadvertência, "isso
não é nada, só uma aventura", fora a sensação de prazer, despreocupação, leveza, desprendimento que
estas substâncias me proporcionavam.
Estudava no Colégio Militar, tinha sido minha opção e meu sonho, antes de entrar nesse mundo e me sentir tão conflitante entre o que eu era, quem eu era, o que eu queria ser, ou nada, por vezes, só chocar as pessoas me bastava, acho que nunca tive muito amor à vida, ou nunca fui muito "normal". Minha classificação no Colégio era de ter um QI acima da média, dentro das Escolas Militares do País, naquele ano, eu e um garoto do Rio, fomos considerados as promessas futuras para projetos no Exército. Mas que nada, não queria isso, não queria pensar, a vida já dóia, nem sabia quem eu era, ou seria.
Meus pais preocupados, amorosos e tão cegos, não percebiam que eu já ia me perdendo deles e de mim.
Parte III
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